O seu portfólio de investimentos é à prova de futuro?

Esses dias tive uma reunião com um grande investidor. A conversa era sobre alocação de longo prazo. Depois de falarmos das classes de ativos, de moedas, de regiões etc., perguntei se eles já tinham feito alguma avaliação para saber se o portfólio atual era “À prova de futuro”.

Reflexões da Cop-28: desafios para o futuro climático do Brasil

Manter o otimismo depois de um ano como esse não é fácil, mas se faz necessário. O mundo vive com duas guerras, inúmeros conflitos menos conhecidos, um mundo polarizado, mudanças climáticas sentidas na pele e uma COP-28, a Conferência Mundial do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), frustrante.

O documento final da cúpula ambiental terminou com a primeira menção a combustíveis fósseis em quase 30 anos de conferências do clima. Mas, por pressão dos países do cartel do petróleo, liderados pela Arábia Saudita, o texto falou de “transição que se afaste dos combustíveis fósseis, acelerando a ação nesta década crítica”. Expressões como “redução” (phase down) ou “eliminação” (phase out) não entraram.

A sua carteira de investimentos está preparada para a revolução ESG?

Nestes últimos dias li inúmeros relatórios e reportagens mostrando como será muito difícil atingir o tal Net Zero (zerar emissões de Gases de Efeito Estufa) até 2050. A temperatura em vários lugares do mundo já subiu mais rápido do que os modelos previam. A temperatura na Europa atingiu 45º C e na Ásia, 50º C graus. Isso aconteceu por alguns dias seguidos. Em 2030 pode acontecer por meses.

A Europa está pegando fogo, os Estados Unidos têm enchentes de um lado e secas devastado safras do outro, a China está enfrentando uma seca recorde. Isso tudo vem gerando falta de alimentos e falta de água em vários lugares. A inflação continua subindo e a desigualdade, aumentando.

 

A agenda ESG e o G de ganância

O ano é 2004. Por uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), com a colaboração do governo suíço, foi publicado e endossado por mais de 20 instituições financeiras – entre elas o International Finance Corporation (IFC) do Banco Mundial – representando coletivamente mais de US$ 6 trilhões sob gestão o relatório “Who Cares Win” (WCW), ou “Ganha Quem se Importa”, em tradução livre, com diretrizes e recomendações sobre como integrar melhor questões ambientais, sociais e de governança (ESG) nas frentes de gestão de ativos, serviços de corretagem e research.

Um avanço, ainda que tímido, em uma pauta incipiente de sustentabilidade em um setor estruturalmente e historicamente movido por interesses estritamente financeiros.

O planeta está bugado. E o bug somos nós, humanos

Dia desses, meu filho de 5 anos falou: “Mãe, o planeta está “bugado”!” Para quem não sabe, “bugado” é um termo usado pelos jovens quando um game apresenta um problema desconhecido.

Ele tem razão. O planeta está bugado. Mas tenho a impressão de que o bug somos nós, seres humanos, terráqueos. Além de sermos os causadores das mudanças climáticas, também somos responsáveis por um mundo desigual, ou porque escolhemos onde investimos e o que consumimos ou simplesmente porque nos omitimos.

Critério ESG na seleção de ativos também é obrigação de um gestor

Desde a fundação da Wright Capital, há 7 anos, engajamo-nos numa verdadeira cruzada pela incorporação de princípios de sustentabilidade e geração de impacto socioambiental na construção de portfólios para nossos clientes.

No início éramos vistos com certo ceticismo pelos gestores nos quais investimos e até mesmo pelos nossos concorrentes. Depois de insistir no assunto e com acontecimentos como Paris 2015, Davos, Business Roundtable, pandemia e COP26, temos assistido, com satisfação, a incorporação de princípios de análise de riscos ambientais, sociais e de governança pela comunidade de investimentos brasileira, análise essa que se convencionou chamar de ASG (Ambiental, Social e Governança).

Investimentos sustentáveis: boas notícias para as novas gerações

Comecei a escrever essa coluna bem no início da pandemia, em junho de 2020. Naquele momento as pessoas estavam começando a olhar mais para investimentos sustentáveis. De lá pra cá, muita coisa aconteceu. Ainda precisamos de uma mudança cultural maior e isso leva tempo. Minha tia, Esther Figueiredo Ferraz, que dedicou a vida a educação, sempre dizia que algumas mudanças levam gerações para acontecer, mas que nem por isso devemos parar de lutar, pois se hoje estamos aqui, alguém lutou antes de nós.

Lembrando: em janeiro de 2020, em Davos, o assunto principal foi mudanças climática. Um pouco antes, em agosto de 2019, mais de 200 CEOs assinaram o Business Roundatable, onde se comprometiam com todos os stakeholders e com o bem-estar social. E, logo em seguida, março de 2020 a pandemia começou.

Conheça os investimentos em soluções baseadas na natureza

No último capítulo do Arrabalde, especial da Revista Piauí, escrito por João Moreira Salles sobre como nós brasileiros entendemos ou não entendemos a Amazônia, ele conta a seguinte história:

Em 2008, Patrick Brown, professor de bioquímica em Stanford, a universidade californiana cravada no centro do Vale do Silício, sentou-se diante de um prato de comida em companhia de um colega geneticista, Michael Eisen. Brown lhe perguntou: “Se fosse para escolher um único problema para atacar, qual seria o maior deles?”

O ASG e a CVM: quanto custa não observar os critérios ambiental, social e governança? e para quem?

(Com Ana Luci Grizzi, sócia e líder da área de prática de Direito Ambiental do Veirano Advogados)– Em 1970 Milton Friedman publicou um artigo no jornal The New York Times chamado “The Social Responsability of a Business is to Increase its Profits” (A Responsabilidade Social de um Negócio é aumentar seu lucro). Externalidades negativas não eram levadas em consideração naquela época.

A influência de tais ideias econômicas não se restringiram a corporações e ao mercado financeiro, afetaram também indivíduos. A teoria conhecida como “free riding” (pegar carona de graça) parte do princípio de que a cooperação não vale a pena, já que se você cooperar, ninguém mais vai e a sua contribuição será pequena demais para fazer qualquer diferença. Acabamos então contando com a contribuição de outros. Tais pensamentos nos fazem perder a esperança e acreditar que somos impotentes. Esse pensamento se aplica quando falamos de mudança climática por exemplo.

O insustentável custo de investir desconhecendo fatores ambientais

Em resposta a oferta de compra de seu território pelo então presidente dos Estados Unidos em 1854, o Cacique Seattle respondeu com o seguinte discurso:

“Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa ideia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los? Cada pedaço desta terra é sagrado para o meu povo. […] Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence a terra. Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas, como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo. O que ocorrer com a terra recaíra sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.”

Este discurso tem 166 anos, mas não podia ser mais atual. Estamos “emprestando” recursos naturais das gerações futuras. Deveríamos ter consciência de que somos apenas zeladores. Como podemos, então, prosseguir com um modelo de capitalismo que não leva em consideração os impactos das atividades empresariais no nosso planeta e nas pessoas? O que vale mais?